quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Diário de leitura - Somos Estrangeiros no Nosso País


Reli recentemente o livro “O estrangeiro” de Alberto Camus. Revi-me como a maioria da população portuguesa a vaguear entre os extremos do que são a incompreensão e a existência de sentimentos, tal como é a realidade genérica desta obra.

Estamos num país que foi empobrecendo ao longo das últimas décadas pela existência de personalidades (plural ou singular tanto faz) que permanecendo em cargos de liderança, permanente ou alternadamente, não mostraram ambição para a mudança, ou modificação do estado de “ruína” económica em que nos encontramos, através de um desinteresse abismal, enorme e absurdo, numa falta de sentimentos pelos sacrifícios que a população neste momento sofre e suporta, no meu entender a verdadeira realidade da personagem principal do livro.

Durão Barroso resolveu sem concurso, como devia ser norma, nomeadamente de alguém que teve a responsabilidade máxima na Europa, o problema de emprego do filho no Banco de Portugal, saltando por cima da legalidade e da legislação que o mesmo bem conhece, e que lhe “deu jeito” esquecer.

João Soares também se lembrou dele próprio e não do desemprego que grassa em Portugal, resolvendo com o atual governo o problema da empregabilidade do filho, licenciado em história, tornando-o assessor no Ministério da Educação.

Como tantos outros casos, que vão sendo divulgados na comunicação social e nos meios sociais, esse tédio pelos reais problemas do país, a observação cínica pela realidade da classe média e da classe pobre, faz supor que somos cada vez mais estrangeiros num país que tem uma soberania dúbia, sendo integrante de vários países, se nos lembrar-mos da venda ignóbil e sórdida de grande parte do património português – faltava também parte da TAP ser entregue aos chineses, como tivemos conhecimento há poucos dias.

Mersault, personagem principal é a passividade de um povo que tudo consente, porque nem armas legais tem ao seu alcance, acabando apenas por dizer o indispensável e o imprescindível. Ele demonstra, principalmente na parte final do livro, a ideia da indiferença perante a vida, desprovida muitas vezes de sentido, dando uma visão céptica da realidade por desinteresse de fazer parte de uma sociedade que descrê nos seus valores, que deveriam ser dominantes, mas que deixaram de existir, moralmente e eticamente.

Se este livro escandalizou, por provocação a época em que foi publicado, hoje a personagem principal espelha a imagem da desagregação politica e social de um mundo em que Portugal, infelizmente, é um exemplo real.   


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O livro "Oblomov" de Ivan Gontcharov



São 646 páginas em que se mergulha numa literatura “dócil, esplendorosa, calorosa e perfumada”, na caracterização do protagonista do romance que com uma preguiça permanente, consegue transformar a mesma num sonho duradoiro, desejos que se transformam em felicidade.


Uma surpresa este livro. Afinal a preguiça não é só a vontade de nada fazer. Pode ser um protesto contra a própria vida, uma outra maneira de satisfazer o próprio ego, num respeito cego com tudo o que o rodeia, numa vida em que o ressentimento não existe, sem a inveja, tão declarada e espalhada na Rússia da época.

O preguiçoso e o amigo, metáfora da época, entre a generosidade e altruísmo de um lado e a ambição de uma vida lutadora com objetivos delineados do outro lado.

Se fosse hoje tudo seria reduzido à depressão e à “louca” necessidade de medicação, entre outros medicamentos contar-se-iam os antidepressivos.


Uma grande obra literária, que recomendo.